quinta-feira, 15 de outubro de 2009


Chop, chop, chop...

Sempre pensei que ser sozinho era melhor.

Sempre pensei melhor sozinho.

Chop...

Nunca fui muito apegado as pessoas, as achava entediantes. Achava que uma relação interpessoal nunca era lá muito espontânea – chop – mas até que considerava agradável até seus primeiros momentos. Depois – chop – vinha a cobrança e aguava as coisas.

Chop, chop...

Me forcei a mudar.

Chop...

Meus amigos tinham amigos, e por serem “amigos” já eram amigos, afinal.

Tornei-me amigo. Amiguei-me as pessoas, as coisas, as plantas – estas eram mais caladas – e das hortaliças nunca fui muito amigo mesmo.

Chop, chop, chop...

Dos animais sim, destes sempre gostei. De amizade verdadeira. Nunca te cobram – chop – nada, nunca te tiram nada. Concorda, Eurípedes?

Devolve meu sanduíche, devolve, vem cá!

Ê bicho do inferno. Devia estar com fome, pobre diabo. Bem, eu com fome faria o mesmo.

Chop, chop...

Como são próximos, o bicho e o homem.

A bem da verdade acho que as coisas começaram a desandar quando o homem começou a ficar parecido com o animal, começou a agir feito tal.

Chop, chop, chop...

Sempre achei mesmo que era melhor manter-me sozinho...

Chop...

O que chamam de solidão nunca me incomodou muito. E o que eu chamo de solidão até me agrada.

De qualquer – chop – forma, como eu bem contava, havia me tornado mais receptivo e já me acostumara a dividir risadas, choros – chop...

Mas parecia que essa solidão já era inerente, então as pessoas se deram a afastar. Não era intencional, e mais parecia uma prenda que eu havia de pagar por um dia querer ser sozinho.

As pessoas não entendiam minha justiça em meio a discussões tão tolas que faziam da minha justiça razoável, onde não havia qualquer razão.

Chop...

Exaltava-me com as pessoas, coisas, plantas, hortaliças – como eu odeio as hortaliças! E passei a ver razão novamente em ficar só.

Chop...

Hoje já não vejo tanta razão. A começar pela lenha, que não seria eu a – chop – cortar; o sanduíche que eu não teria de fazer – se bem que se eu alimentasse o cão também não teria; o mundo que eu não teria de pôr somente em meus ombros.

E finalmente talvez não estivesse – chop – aqui. Rodeado de um silêncio ensurdecedor, onde o vazio te abraça a ponto de sufocar.


A lenha é pesada, mas agora tenho calor, ainda que inumano.

Screeech...

Tenho que pôr óleo nas dobradiças...

Se faz sólida, agora, a solidão...


...clank...

Tu...tu...tu....

Alô...mãe?...