quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Cigarro Amarelo

Ah, quando numa terça-feira, assim pela noite, dessas de ócio e cigarros, me foi questionado por meu pai de onde vinha tal aptidão pelas letras - regojizo sobre a presunção - afinal de quem havia herdado?. Respondi-lhe que tal habilidade havia se formado consoante a formação do pensamento, os interesses, e que não se adequa a coisas de sangue como havia conjecturado. Afirmei que as letras deveriam ser do homem, afinal, a fala o é, e que a expressão quando manchada sobre o branco do papel ganhava liberdade, mais que quando evidenciadas sobre a face desse mesmo homem.
Houve o silêncio. Era pesado, como se dois gigantes resolvessem se encarar. A era das concessões por minha parte havia acabado e ele sabia, ou suspeitava. Num misto de surpresa e satisfação - quão era orgulhoso - via-se a percepção de que seu filho havia por se tornado um homem feito, ou alguém deveras convencido. Como das duas lhe era satisfatório, resumiu-se apenas em balançar a cabeça, num gesto de compreensão.
Há de se esclarecer que nunca me dei com o velho, só conto o acontecido porque convencionei como curioso, no mínimo. Afinal, onde estava o descaso corriqueiro, a cordialidade de que compartilhava como se fosse um transeunte em minha casa. O caso é o recalque por pensar na relação estritamente - sem intransigência; às vezes não - financeira que estabelecera desde os anos em que eu contava como anos.
E lá permaneceu, assistindo a sua televisão e fumando seu cigarro amarelo. Tal qual inatingível, como um totem. O pior: notam a admiração ainda? Piegas, mas notável.
Ah, se tudo isso fosse real. Pena, mas não foi; e bem que seria interessante.

Nenhum comentário: