segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Calcanhar

Minha lucidez vem carregada de um câncer indolor que só mancha meus olhos de olheiras que julgo desnecessárias. Os tumores de que falo e quase me levam a um naturalismo que recorro em certas palavras têm razão de sorriso que faz chorar. Chora, cão de rua.
Meu apego é meu calcanhar que um Aquiles já feriu, fez que não doeu, e hoje é prenda que o resto paga para um dia sonhar sorrir. Eu não sou Aquiles, eu não sou aquilo, eu não sou nem este que vos fala; quem o faz se perde nos nomes, tanto nos seus quanto dos que já amou.
Triste é ser feliz em dose homeopática, paleativa. Um nobre amigo ensaiou sobre felicidade e a distinguiu de diversão magistralmente. Ser feliz é viver, divertir-se é estar. Paleativamente me acendo um cigarro e penso no quão indolor isso pode ser. Mais para a frente eu descubro.
Carregamos parte do que já vivemos para construir nosso todo. Guardamos em uma bolsa que carregamos para todo canto e vira e mexe a perdemos em outros cantos para outros todos. Eu guardo debaixo da cama e meu bicho-papão visita todo dia. Hoje, tomamos café todas as terças, eu e o papão - ele não fala muito.

5 comentários:

Batton disse...

Papão é bicho solto, bicho preso da gente!
Ele só fala quando está para eclodir a terceira guerra do espelho!

Mais um Zé disse...

Do espelho eu nem digo, mas de tempo em tempo, quando saio do devaneio de cada passeio de onibus, entro em uma pequena briguinha comigo.

GuiBorges disse...

Belo/triste texto

GuiBorges disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
GuiBorges disse...
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